Apostar em ações de empresas sustentáveis parece lógico. Mas a cultura do curto prazo e, principalmente, a dificuldade de se avaliar o ganho real para as organizações com estratégias do gênero costumam pesar contra essa tese de investimento. No longo termo, porém, o ganho costuma compensar. E com boa margem.
Pesquisa da Aon, em parceria com a Wharton School, que avaliou 361 companhias abertas em 5 continentes, mostra que os papéis de empresas com melhor gestão de riscos tiveram um índice de volatilidade 38% menor que aquelas com piores controles no período de março de 2012 a março de 2013. Entre 2010 e 2012, a vantagem foi ainda maior: 50% menos oscilação. A pesquisa levou em conta a maturidade da gestão de riscos na área social, ambiental, regulatória e econômica.
No período entre março de 2012 e março de 2013, o grupo com maior maturidade da gestão de riscos obteve um retorno médio de 18%, enquanto aqueles com controle mais precário perderam em média 10%.
O levantamento da Aon/Warthon também pesquisou cenários específicos de crise. O período entre a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, e o primeiro mês pós-evento foi um desses momentos. De acordo com a pesquisa, o mercado acionário como um todo caiu, mas as empresas com grau 5 de maturidade tiveram performance 30% superior às de grau 1.
No Brasil, o desempenho do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da BM&FBovespa, desde o lançamento, em novembro de 2005, mostra que, no longo prazo, as companhias que incorporaram questões de responsabilidade social, ambiental e econômica, além do foco em governança, tiveram um ganho significativo sobre o conjunto geral. Enquanto o Ibovespa acumulou ganho de 62,51%, o ISE gerou mais que o dobro do retorno no período de novembro de 2005 até 14 de abril deste ano, com 142,7% de rentabilidade.
Em grande parte das empresas brasileiras, no entanto, a sustentabilidade ainda é uma realidade distante. Um estudo realizado pela empresa Sitawi com 72 companhias abertas que fazem parte do índice MSCI Brazil, mostrou que 57% tiveram incidentes relevantes em relação a temas relacionados à sustentabilidade em 2013. São problemas que vão desde incidentes graves, como trabalho escravo, a situações mais leves, como mau atendimento a clientes, explica Gustavo Pimentel, diretor-gerente da empresa.
O levantamento mapeou todos os eventos negativos, considerados como "controvérsias" em relação às questões ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG, na sigla em inglês), praticadas pelas empresas, que representam dez setores no país. O campeão de incidentes foi o setor de telecomunicações, com mais de 26% de todos os casos - a maior parte, no entanto, relacionada a situações consideradas de severidade baixa ou moderada. "O maior foco dos problemas se relaciona a serviços prestados aos clientes, o que inclui até mesmo a queda excessiva de ligações", explica Pimentel.
O segundo setor mais controverso foi o de serviços financeiros. Segundo o estudo, excesso de espera em filas, falta de segurança e indisponibilidade de serviços lideraram a lista de problemas entre esse grupo.
O setor considerado mais crítico, no entanto, foi o de consumo cíclico ou discricionário, que inclui construtoras e incorporadoras. Esse grupo registrou o maior grau de situações consideradas severas ou muito severas. Segundo o estudo, a maior parte, 67% dos incidentes, envolveu direitos trabalhistas. Os problemas mais graves foram relacionados a trabalho em condições análogas à escravidão.
Artigo editado, publicado hoje no jornal Valor Econômico, de autoria de Sérgio Tauhata.
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